resolvi dar uma queixadinha

É, meus caros, sou professora.

Pergunte para qualquer pessoa – no bar, na rua, no ônibus – o que ela acredita ser a solução para os problemas nacionais e ela dirá, entre outra coisa aqui e lá: educação. E ela tem razão, um país sem educação é um país muito perigoso – por mais cortesia e amabilidade que tenha.

Poderia ficar aqui horas e horas e horas discorrendo sobre a maneira de se fazer educação no Brasil pois há muita coisa errada nesse imbróglio, mas sempre chegaria na conclusão fatal: o salário de um professor. Vão aí dizer que reclamo (reclamamos, na verdade, somos muitos) à toa, então mostro, comprovando com pingos nos devidos is a situação com dois exemplos de concursos fresquinhos para professor:

Da secretaria de educação do Rio de Janeiro:

VAGAS E BENEFÍCIOS

Os profissionais contratados deverão atender a demanda de diversas cidades do Rio de Janeiro e as vagas estão distribuídas por disciplina da seguinte maneira:

  • Professor de 16 horas – (322 vagas) Artes, (30) Biologia, (129) Ciências, (cadastro reserva) Educação Física, (2) Espanhol, (718) Filosofia, (cadastro reserva) História, (89) Inglês e (640) Sociologia.
  • Professor de 30 horas – (395) Física, (525) Geografia, (223) Matemática, (cadastro reserva) Português e (248) Química.

A remuneração será de R$ 877,91 para Professor com jornada de 16 horas e de R$ 1.646,07 para Professor com carga horária de 30 horas.

Da secretaria de educação do Mato Grosso do Sul:

Jornada de trabalho: 20 horas semanais (turnos matutino e/ou vespertino e/ou noturno).1.3 – Cargo: Professor (de Educação Básica nos níveis de Ensino Fundamental e/ou Ensino Médio).1.3.1 – Função: Docência.1.4 – Local de Realização do Concurso Público: Campo Grande/MS.

O candidato habilitado no Concurso Público para o cargo de Professor, no exercício de docência poderá atuar nos seguintes níveis:a) Ensino Fundamental, nas disciplinas do 1º ao 9º ano; b) Ensino Médio, nas disciplinas do 1º ao 3º ano.

1.7 – Remuneração:1.7.1 – Vencimento-Base: R$ 994,44 (novecentos e noventa e quatro reais e quarenta e quatro centavos) 1.7.2 – Incentivo Financeiro: R$ 397,78 (trezentos e noventa e sete reais e setenta e oito centavos)

 

Vejamos a situação: para um professor dar 20 horas de aula, ele precisa de pelo menos 10 horas em casa para preparação de aulas, correção de provas e trabalhos e para cumprimento das burocracias que toda instituição precisa ter. E além disso, ainda se cobra desse fulano que ele continue estudando: pós, mestrado, doutorado. Como? Eu não sei.

A situação melhora nas escolas particulares, mas elas seguem o mercado, que para professores é definido pelos salários públicos. E o Brasil maior, de quase todos, depende dos que trabalham para o ensino público. Para onde vamos? Não sei.

Deixo aí a queixadinha prometida, que ecoa no vazio da internet e das vontades públicas. Pois é.

Sobre dancewithyou

desejos de sea, sex and sun e só.
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7 respostas para resolvi dar uma queixadinha

  1. Carol Lobo disse:

    Texto categórico e triste…. Sou professora também e, às vezes, desanimo com essas indignidades. Mas é sempre bom lembrar que, no vazio da internet, há um eco! Parabéns!

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  2. Maura Dias disse:

    Olá Thais!
    E se ninguém prestasse esses concursos?
    Mas a galera se inscreve né? Por quê?
    Oras, porque, no Brasil, qualquer analfabeto pega deproma de licenciatura.
    E, assim, a roda do capital continua rodando…

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  3. C. disse:

    Bom, essa publicação me fez matutar também nisso:
    Há 12 anos concluído o ensino médio, deparei-me com o material didático de um dos melhores cursinhos de SP. Para estudo de caso, li-o de cabo-a-rabo e, no ensino de Geografia, a Mundial tem um resumo simples e breve, mas de conteúdo físico-econômico-político integrado; por exemplo, em linhas gerais: do Egito antigo ao atual, é possível ver contiguidade -desde a ocupação “intuitiva” (não é o melhor dos termos) dos vales (há milênios) ao caráter religioso dos acontecimentos atuais- de fatores sociais, ou seja, intrínsecos aos desejos humanos.
    Ao chegar no conteúdo do Brasil, basicamente há um esboço da mesma linha de estudo, com uma inicial descrição geográfica natural (mas no estilo das cartilhas do ensino fundamental de 25 anos atrás), então dá-se um salto sobre o valor da terra, pelos interesses humanos, o que nubla/ subjetiva os interesses econômicos, e não há qualquer profundidade analítica, às vezes pior, é parcial (o que talvez gere aqueles “militantes políticos” universitários sem base sólida, piqueteiros, que precisam reclamar algo, ser do contra), numa “encheção” de linguiça enorme, pois me parece que não se pode falar mais do estrangeiro, ainda que não se tenha algo decente a falar sobre o país.
    Continuando: há lá um mapa com a divisão regional (N,NE,CO,SE,S), seguido de “toda” a descrição do caráter econômico local, mas não há, é de se pasmar, a hidrografia (que explicaria, por exemplo, a presença de determinado tipo de solo e a origem dos interesses políticos de ocupação da região e, com análise, apontaria alternativas de investimento de tecnologia e de capital). A economia e a política mostram-se desligadas da natureza e, especialmente, do caráter humano. Quesitos básicos, não? (Não posso afirmar só por não conhecer o material de outros países, mas, pela diferença anteriormente citada, imagino que sim. No mais, ouvi comentário que demonstra a carência de conteúdo Nacional em relação a Mundial nas escolas: “cansei de aulas sobre as Guerras, então desencanei”)
    Certamente há dinheiro envolvido em pesquisa/ desenvolvimento de análises geográficas complexas, intrincadas, mas esse material comum às esferas universitárias chegará quando de forma simples aos bancos do ensino pré-vestibular? A tecnologia de informatização já não deveria ter permitido isso? Bom, em 12 anos, as coisas não evoluíram muito, projetos não saíram do papel.
    Daí, mais ou menos voltando para o assunto da postagem, sigo pensando que quem participa da política de gestão governamental e quem distribui a renda, seja pública ou privada, provavelmente não teve um senso político (nem cívico-crítico) até o colegial (e quantos terão esse senso depois?). Vários níveis de precariedade…
    Com o material que há, nem o professor com a maior boa vontade do mundo se esgote, ou que o aluno esforçado queira em casa se desenvolver, cria-se um senso político, que seria fundamental pra compreender a máquina do mundo e fazê-la funcionar melhor; pensar e gerir melhor, a Educação e todo o resto.

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    • dancewithyou disse:

      Olá, Cíntia! Bom ver você por aqui.É como eu disse: há muito mais problemas no imbróglio educação, e o currículo é um deles, certamente, e não só em Geografia. Penso que uma vez que os professores ganhem mais – e estejam, consequentemente, melhor preparados, já que terão mais concorrência – haverá uma melhora também na escolha (ou própria produção) dos materiais, e do conteúdo a ser discutido em sala. E os cursinhos universitários não são medida porque são empresas que querem é preparar a decoreba-vestibular e não formar um indivíduo.

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      • C. disse:

        É, Thaís, minha cara, você tem toda razão!
        Depois que eu terminei de redigir a ampliação da sua queixa ao currículo, me toquei que eu mesma estava parcial, e falando demais.
        Refleti e temi uma aparência reacionária, tola, exageradamente. Tsc, um ato-reflexo da minha indignação ao terminar de ler o material…

        Além de tudo, é bom não perder o metro (coisa que você não faz, porque, até ao se queixar, é elegante).

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